quarta-feira, 17 de julho de 2013

Carta de posicionamento do Coletivo frente as eleições para a CNRMS



 O Coletivo Gaúcho de Residentes em Saúde (CGRS) vem, por meio desta, tornar pública sua repulsa diante da forma como tem se dado a composição, o descaso no funcionamento e o processo eleitoral para a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS).
A Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS) ao longo dos anos
A CNRMS foi instituída no ano de 2007 e, dentre as suas atribuições, está pensar, regulamentar e deliberar sobre todas as questões das Residências Multiprofissionais em Saúde e em Área Profissional do Brasil. A primeira composição da CNRMS foi regulamentada pela portaria nº 45 (ver anexo) construída, coletivamente, pelos Ministérios da Saúde (MS), da Educação (MEC) e pelos diversos atores envolvidos com as Residências em Saúde (residentes, preceptores, tutores, coordenadores, gestores e trabalhadores), contemplando todos os fóruns de forma paritária, inclusive com o mesmo número de integrantes que os representantes do governo (MEC e MS).
No entanto, no ano de 2009, os Ministérios supracitados derrubaram arbitrariamente a portaria nº 45 e lançaram nova portaria nº 1.077, alterando, assim, a configuração, as cadeiras e os sujeitos envolvidos na Comissão. Tal portaria reduziu drasticamente a participação dos movimentos sociais, do controle social e dos Fóruns que vinham acompanhando o trabalho da CNRMS, garantindo que a maioria das cadeiras da Comissão fosse ocupada por gestores. Isso permite aos Ministérios (sobretudo ao MEC) a regulação absoluta do processo, pois possuem 30% dos votos concentrados entre seus representantes diretos, além de coordenarem a designação de grande parte dos outros membros. Dessa forma, a CNRMS adota um regime presidencialista que afirma a disparidade e contraria a dinâmica colegiada até então existente, bandeira histórica das lutas pela reforma sanitária.
Posição do Fórum Nacional de Residentes em Saúde (FNRS) historicamente
O FNRS foi criado de modo a representar uma instância de organização, articulação e fortalecimento do segmento dos residentes e apresentou diversos propósitos de luta, dentre eles o de reivindicar a formação da CNRMS, tendo participado de sua construção e composição até 2009. Era um dos seus componentes mais ativos, levando discussões sempre relacionadas à realidade de residentes de todo o país. Por meio da portaria nº 1.077, as duas vagas anteriormente ocupadas pelo FNRS passam a ser destinadas a residentes que não, necessariamente, estejam implicados/ apropriados das discussões construídas nacionalmente. Dessa forma, entendemos que é intenção do governo enfraquecer a representação dos residentes na Comissão.
Até 2010, o FNRS buscou articular a representação de residentes na CNRMS, realizando diversas tentativas de compor com os demais segmentos. Todavia, observou-se a negligência da Comissão frente às necessidades e posições trazidas pelos residentes, além do funcionamento autoritário da mesma. Entendendo que a presença de residentes na CNRMS legitimava o processo desigual de deliberações acerca da Residência, em 2010, o FNRS optou por não mais ocupar as cadeiras destinadas aos residentes e ocupar outros espaços de militância que se aproximem e dialoguem com suas lutas.
A referida Comissão também não tem reconhecido e legitimado as deliberações e as indicações políticas dos espaços de discussão realizados coletivamente pelos diversos atores das Residências (tais como o IV Seminário Nacional das Residências em Saúde e os I e II Encontros Nacionais de Residências em Saúde).
Situação das eleições para a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS) em 2013
Atualmente, como não há portaria vigente acerca da composição da CNRMS, a revisão de eleição foi anunciada no site do Ministério da Educação através de um comunicado postado no dia 02 de maio de 2013. Tal comunicado informa que os Ministérios já definiram os membros titulares e suplentes de diversas categorias que compõem a Comissão e que a eleição dos coordenadores de Programa, residentes, tutores e preceptores será realizada em momento oportuno, assim que a Portaria nº 1.077 for alterada e atualizada.
Assim sendo, hoje a CNRMS está composta parcialmente, apenas com os membros que interessam aos Ministérios. O processo eleitoral está confuso e, no sistema eletrônico da CNRMS (SisCNRMS), qualquer pessoa física pode se cadastrar exclusivamente para participar da eleição. Ao mesmo tempo, não observamos interesse do MEC no avanço do processo de cadastramento dos residentes e certificação/titulação das Residências Multiprofissionais em Saúde.
Posicionamento Político do Coletivo Gaúcho de Residentes quanto à composição atual da CNRMS
Em virtude da falta de democracia na composição da CNRMS, o CGRS posiciona-se contrário a toda e qualquer participação de residentes junto a esta. Entendemos que tal Comissão está aparelhada pelo governo, inviabilizando avanços em questões pertinentes à formação dos residentes para o SUS, tais como: Redução da carga horária de 60 horas; fortalecimento do vínculo de trabalho; qualificação do processo de escolha, acompanhamento e avaliação da preceptoria; estímulo à formação política; não obrigatoriedade de vinculação às Instituições de Ensino Superior (IES); implementação de políticas de atenção à saúde do residente; retirada dos campos de prática com parcerias público-privadas (privatização do SUS); garantia e valorização da participação em espaços de controle social (integração com outros movimentos sociais) na carga horária do residente; reconhecimento da titulação do residente; reforma da legislação pertinente à RMS e real investimento na qualificação teórica da Residência – pautas recorrentes de insatisfação e de debate do CGRS.
O CGRS desestimula fortemente o cadastramento dos residentes no SisCNRMS – sistema on-line de cadastro para a votação – porque o mesmo é restrito às eleições e não tem vinculação com a oficialização do residente junto ao MEC, processo necessário para a garantia de titulação posterior.
Recomendamos a todos os residentes que boicotem ao processo eleitoral da CNRMS, por entender que a ocupação deste espaço não representa garantia de participação ativa/construtiva e legitima decisões verticais, arbitrárias e impositivas por parte do governo.

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